Archive for the '…' Category

09
maio
11

Fui deixada numa dobra importante, minha voz ficou na dobradiça do ouvido. Toda mulher que se aproxima encontra meus dentes, já mordi sua esposa tantas vezes, que ela pensa que você é surdo.

foto: Henry Cartier-Bresson

06
jan
11

2011

Que a sombra seja larga, porque 2011 é lança-chamas.

Foto: Burt Glinn

15
dez
10

08
out
10

revista gloss

Outro dia um preso francês matou o companheiro de cela, abriu seu corpo, tirou o pulmão, cortou em cubos e fez acebolado num fogão portátil. Comeu, evidentemente. Entre nós, o caso Bruno dispensa apresentações. Em São Paulo, assaltantes dão tiro nas vítimas para que o policial tenha de socorrê-las e não possa ir atrás do capeta. Nessa trama, fica difícil a atriz Lindsay Lohan chocar o leitor com uma breve estada no xadrez porque dirigia bêbada e nem dá tempo para comemorar a surra que a amante de Sorocaba levou da melhor amiga. O problema do escândalo, notícia inclusa, é que ele é um texto seguido de foto. Batata frita acompanha. Encândalo só revolta, enfurece, move a alma durante a transmissão da notícia. Nossa sensibilidade está embotada, mas não só porque escândalos são muitos e se autoanulam pela abundância. Os olhos ficaram saturados pela apresentação da notícia em capítulos, ao vivo. Os escândalos parecem iguais aos próximos que virão porque a linguagem da TV nos afasta do drama real. Mais: quando o escândalo é seu, caso ele não seja reportado e distribuído em rede, o luto não começa, a vergonha não aflora, as desculpas nãos podem ser pedidas. Isso é um texto, epitáfio é um texto, bula é um texto, julgamento é um texto e sua vida só vale se for um texto. O fato está ameaçado pela palavra. Escândalo para valer é indizível e privado, ferindo a nuca ou o pulso – onde doer mais.

Texto publicado na edição de setembro da Gloss, uma coluna no final da revista onde a cada mês um colaborador diferente é convidado. Edição do Ademir Corrêa.

14
set
10

imagem fiel

De vez em quando eu brinco de fotógrafa e de boneca. Já cliquei algumas amigas: Bebel, Adrienne Myrtes e a mulher do meu primo Beto, a Deyse, grávida de oito meses. Vou postar aqui algumas imagens, eu as deixei como acho que elas são.

Maria Isabel Barros Gonçalves, a Bebel

Atriz de cinema.

Atriz de teatro.

Atriz de seriado.

Atriz de musical.

Adrienne Myrtes

A Adrienne tem planos a longo prazo.

Que ela não tira um minuto de sua mira.

É uma mulher rara, ela não tem pressa.

Nem tente, jamais alguém tirou a Adrienne do sério.

Deyse

A Deyse é uma índia, das matas de capim doce. Ela perdeu a mãe durante a gestação, esse sorriso é uma aurora.

Ela queria essa foto de todo jeito, já agasalhando o menino antes de nascer.

No pé de alecrim, para perfumar a água amniótica.

A vitória do corpo.

22
ago
10

edições sesc sp

O SESC, num projeto de acessibilidade e circulação cultural, mandou dois livros da Edições SESC SP para alguns escritores. A ideia é que cada um comente a experiência de leitura de um livro e coloque para circular o outro.

Recebi o belíssimo exemplar de Aldemir Martins – O viajante amigo. Trata-se da obra do artista plástico Aldemir Martins que se expressou através de gravuras, pinturas, desenhos, cerâmicas, desenhos industriais, embalagens a até vinhetas televisivas. Aldemir nasceu em 1922 no Vale do Cariri, filho de uma descendente dos tapuias e de um funcionário público. Já em São Paulo,  Aldemir fez curso com Poty, ele mesmo, o gigante que ilustrou as primeiras edições de Guimarães Rosa.  A obra de Aldemir viajou o mundo. Em 2006, ano de sua morte, o SESC expôs seu trabalho sob a curadoria de Jacob Klintowitz, que também assina esse belo exemplar.

Botei um pouco de Aldemir Martins na janela, debaixo de sol quente. Olhemos juntos:

O outro volume é o ótimo infanto-juvenil Montanha-russa, escrito por Fernando Bonassi, o livro faz parte da coleção Ópera Urbana, editada pela Cosac Naify.

Ilustração de Jan Limpens. Já devorei e recomendo.

Dentro da proposta de circulação vou passá-lo adiante, pensei na nossa clássica rifa, mas vamos fazer uma coisa mais rápida. O primeiro que comentar leva o Bonassi! Mandarei via Correio para qualquer lugar do Brasil, só me deixar o endereço no email: delfuego@uol.com.br. Para não interromper a roda, quando terminar de ler, passe-o adiante também.

Um, dois, três e já!

19
maio
10

roberto bolaño

14
abr
10

perfect kiss

A primeira vez que ouvi New Order foi atravessando a praça de um bairro pacato, eu tinha uns treze anos. Alguém botou a caixa de som Gradiente para fora da janela no exato momento em que eu procurava a casa de um menino. Desisti da casa, andei em círculo até que a música terminasse e fui embora.

07
abr
10

camping calamares, Bolaño é meu

livro de ensaios sobre o chileno que inclui o documentário Bolaño cercano

Há alguns meses pediram-me um conto para uma antologia bem interessante (deve estar chegando), um dos personagens deveria ser um autor morto. Não tive dúvida, Roberto Bolaño seria meu eixo. Devo a ele uma experiência de leitura fora do comum. Há leituras abismadas pela linguagem, pelo enredo, pelo realismo, ora pela transcendência. Bolaño é outra coisa, talvez uma taça de bile.

Abaixo, um trechinho do conto, minha homenagem ao chileno.

Camping Calamares

Conheci o Bolaño num camping do litoral sul de São Paulo. Ele cuidava da segurança, como se isso fosse possível. Ao entrar, acertei o adiantamento com a dona, de cara achei que o chileno dava uns pegas na Judite Calamares. Os óculos, sempre engordurados, me intrigavam. Se a visão ficava embaçada com ou sem, pra quê o vidro na cara? Hoje entendo. Bolaño não gosta que vejam seus olhos, tudo bem que o fígado amarelou os globos, é que a questão não era estética, mas latina. Assim o olhar ficava à paisana, sem farda, sem o compromisso de ter visto.

Disse a ele que estava grávida em maio, em agosto morávamos os dois no camping, éramos zeladores. Judite Calamares passava os dias da semana na capital, onde comprava tela para mosquito, repelentes e visitava um parente no hospital. Voltava antes do final de semana, cheia de sacolas, umas louças vagabundas que vendia para as mulheres dos pescadores. Bolaño me disse que ela vendia maconha jamaicana, eu duvidei, mas depois de ver a gorda pingar um abridor de apetite infantil na bebida de outros gordos, e mandando que eu levasse as bebidas, bom. Pingou na minha frente, pensei, Judite Calamares vende maconha jamaicana, mas não fuma, se fumasse, estaria sentada com os turistas e comendo os bolinhos que eu fritava. Para o segundo desvio, basta o primeiro.

Bolaño olhava para o mar como se aquela água toda coubesse num copo. Acho que a maconha jamaicana não fazia efeito nele, e como evitava beber por conta do fígado, ele foi ficando um perfeito vigilante noturno. Ainda que cochilasse a madrugada inteira, tinha uma ruga na testa que imprimia atenção.

07
mar
10

alameda santos

Um dia, Ivana me deu o original de Hotel Novo Mundo para ler. Lá pela terceira página, encontro no verso das folhas o começo de outra narrativa. Desde esse primeiro impacto que sei disso: Alameda Santos é o livro que Ivana nasceu para escrever. É o romance da autora de Falo de Mulher. Que escritora, puta que pariu! Nessa terça o lançamento começará na Livraria da Vila e seguirá para a Mercearia São Pedro, para onde me dirigirei depois do evento Literatura Plural no Sesc Osasco. Nos vemos lá!




delfuego@uol.com.br

Eu voo com um peteleco.

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