livro de ensaios sobre o chileno que inclui o documentário Bolaño cercano
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Há alguns meses pediram-me um conto para uma antologia bem interessante (deve estar chegando), um dos personagens deveria ser um autor morto. Não tive dúvida, Roberto Bolaño seria meu eixo. Devo a ele uma experiência de leitura fora do comum. Há leituras abismadas pela linguagem, pelo enredo, pelo realismo, ora pela transcendência. Bolaño é outra coisa, talvez uma taça de bile.
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Abaixo, um trechinho do conto, minha homenagem ao chileno.
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Camping Calamares
Conheci o Bolaño num camping do litoral sul de São Paulo. Ele cuidava da segurança, como se isso fosse possível. Ao entrar, acertei o adiantamento com a dona, de cara achei que o chileno dava uns pegas na Judite Calamares. Os óculos, sempre engordurados, me intrigavam. Se a visão ficava embaçada com ou sem, pra quê o vidro na cara? Hoje entendo. Bolaño não gosta que vejam seus olhos, tudo bem que o fígado amarelou os globos, é que a questão não era estética, mas latina. Assim o olhar ficava à paisana, sem farda, sem o compromisso de ter visto.
Disse a ele que estava grávida em maio, em agosto morávamos os dois no camping, éramos zeladores. Judite Calamares passava os dias da semana na capital, onde comprava tela para mosquito, repelentes e visitava um parente no hospital. Voltava antes do final de semana, cheia de sacolas, umas louças vagabundas que vendia para as mulheres dos pescadores. Bolaño me disse que ela vendia maconha jamaicana, eu duvidei, mas depois de ver a gorda pingar um abridor de apetite infantil na bebida de outros gordos, e mandando que eu levasse as bebidas, bom. Pingou na minha frente, pensei, Judite Calamares vende maconha jamaicana, mas não fuma, se fumasse, estaria sentada com os turistas e comendo os bolinhos que eu fritava. Para o segundo desvio, basta o primeiro.
Bolaño olhava para o mar como se aquela água toda coubesse num copo. Acho que a maconha jamaicana não fazia efeito nele, e como evitava beber por conta do fígado, ele foi ficando um perfeito vigilante noturno. Ainda que cochilasse a madrugada inteira, tinha uma ruga na testa que imprimia atenção.
Nossa… depois de Camping Calamares deu uma vontade de comer pizza de atum. Padaria Real… Real…
É o que faremos.
Ninguém tasca, você viu primeiro.
Pelo menos na antologia :)
ooooi, voce com certeza não lembra mais de mim… estive presente em um workshop seu aqui no interior de sp, em presidente venceslau, voce até me incentivou a fazer um blog e disse que meu mini conto parecia uma sinopse de filme rs… pois é fiz e estou gostando muito! só queria agradecer toda sua simpatia :D
beeijo :* e ainda mais sucesso!
Oi, Bárbara, como vai? Lembro-me bem dessa noite em Presidente Venceslau, adorei conhecer vocês. Muito obrigada pela visita, fui ao seu blog, te reconheci pela foto, fiquei mesmo impressionada com seu miniconto em nosso exercício. Beijos!!!
Audácia Bolaño seu!!!!!!!!!!!!2666
Bolaño é nosso :)
concordo em pleno…
ele (Bolaño) é “outra coisa”
Xaxuaxo
KimdaMagna
Outra e outro.